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Super Phoenix: 2019

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Fim de Festa ou O Princípio do Fim


Olá queridos dez leitores!

Aqui é o ex-blogueiro e ex-gincaneiro que escreve do além túmulo vez por outra.

Eventualmente, quando dá tempo e temos vontade, e isso nem sempre ocorre na mesma hora, comparecemos aqui nesse espaço para registrar algumas observações sobre esse verdadeiro "The Walking Dead" gincaneiro.

Depois de meses sem nem pensar em qualquer assunto remotamente ligado a gincana, fiquei sabendo, através de um grupo de "Uats", malditos grupos de "Uats"!!!, que a Coyote. ou Coyoti ou coiote, nunca-consegui-escrever-o-nome-deles-sem-ter-que-pesquisar-e-agora-tenho-preguiça, encontrou seu destino irremediável.

Uma equipe que estava vencendo acabou.Se esse não é um sinal dos tempos, não sei o que é.

Isso acabou me levando a fazer uma coisa impensável para o momento. Tomei um café conversando sobre gincana com um antigo colaborador deste espaço, no fim da tarde de ontem. Trocamos algumas ideias sobre o porquê de tanta gente estar enchendo o saco e largando o osso. Não chegamos a nenhuma conclusão brilhante, mas alguns palpites até que fizeram sentido e chegamos a um...

TOP 3 MOTIVOS POR QUE AS GINCANAS SÃO UM SACO (exceto para quem as ganha)

As Super Gincanas

No início eram 30 tarefas e tudo era bom. Depois foram 40 tarefas e tudo era bom. Depois foram 60 tarefas e todos aplaudiram. Depois foram 80 e as pessoas vibraram. Então foram 100, 120, 150, 180, 200...

O problema é que a quantidade de tarefas é inversamente proporcional a qualidade dessas tarefas. Isso deveria ser óbvio, mas as organizadoras queriam era quebrar recordes, ver até onde era possível ir.

Eu vi organizadores de gincana, participando de gincanas de outros organizadores, pressionando o botão F5 e falando alto no QG "Cadê as tarefas? Só tem isso de tarefa?". O negócio era ser o mais radical, o mais desafiador. A vaidade de ser a organizadora com mais tarefas. A maior nem sempre é melhor, não é meus amigos?

Participar de uma gincana, e entender tudo o que está acontecendo, passou a ser impossível. Cada um sabe o que acontece apenas, e olhe lá, dentro da sua competência.
Não há tempo para aproveitar a gincana ou curtir uma tarefa bem elaborada. São tantas tarefas que mal acaba uma, começa outra, e lá vamos nós outra vez. Rever amigos, conversar, etc... fica para as horas de folga e essas ocorrem em algum final de semana em que não há gincana (e, durante um tempo, sempre houve gincana).

Gincanas pequenas como as de colégio, de bairro, de pequenas cidades, acabaram por que todo mundo tem que participar em tudo com força total. É o estado inteiro marcando território, conquistando os melhores apoios, etc... Sem nem dar bola para o lugar onde estão indo.

Imagina que merda ficaram as gincanas de colégio. Você tem, sei lá, 14/15 anos e quer tentar resolver uma charada, era uma oportunidade para o pessoal da escola brincar e tal, mas, de uma hora pra outra, tem gente do estado inteiro, especialista em charadas, resolvendo a tua charada em minutos. E tu fica ali, coadjuvante da tua própria festa. Que vontade tu vai ter de participar? Quando essa galera vai embora o que fica? Nada.

Todas as gincanas passaram a ser estaduais e quando tudo é igual...


As Super Equipes

Para conseguir participar de gincanas com 150 tarefas, sejam elas municipais, de colégio ou de um bairro, é preciso de super equipes.

Não venham com aquela papo surrado do "é só se organizar direitinho que todo mundo transa". Vão se foder. De equipe pequena falo eu. De organização também. Digo para vocês, até mais ou menos 100 tarefas únicas, ou seja, não me venham com 10 tarefas de 20 partes cada uma. Uma equipe pequena se organiza e vai a luta. Acima disso tudo vira mato e não tem organização que dê conta do volume. As Super Equipes te ganham no volume.

Eles tem gente, e apoios, para atender as dezenas de tarefas simultâneas durante horas, com uma retaguarda gigante para dar apoio ao operacional. As pequenas as vezes se iludem por equilibrar em uma das pontas da gincana, como na rua, por exemplo, mas daí tomam pau em todo o resto. Em uma gincana de 200 tarefas, uma equipe grande pode errar 20 vezes que sabe que as pequenas vão errar 40 por não ter recursos para realizar todas as tarefas.

Em uma das nossas últimas gincanas não conseguimos cumprir uma tarefa simples, um álbum de fotos. A raiva que eu senti não foi por não fazer a tarefa, foi por reconhecer a impotência da gente de conseguir cumprir uma tarefa idiota como essa, por falta de ter quem fazer. Daí a gente viu que acabou.

Hoje (ou pelo menos até o ano passado) uma equipe que vai vencer a gincana tem, no mínimo:

* Setor de fechamento por tipo de tarefa
* Equipe para atender infraestrutura do QG de forma exclusiva
* Participação em todas as gincanas do Estado, chegando antes do início, saindo depois do fim ou depois do resultado
* Realização de eventos para captação de recursos (como festas ou outros eventos)
* Participação em todos os eventos festivos dos principais apoios
* Orçamento próprio para compra massiva de objetos, com pessoas com tempo disponível para andar pelo Estado durante o ano inteiro em horário comercial atrás de contatos e compras.

E isso é o mínimo. E pra fazer tudo isso precisa de gente. E precisa de grana.

Essas super equipes, naturalmente, começaram a monopolizar o calendário. Bom para elas, ruim para o todo. Nem todo mundo está a fim de ter o estresse de transformar a sua vida em uma gincana eterna para, no fim das contas, perder por quatro, cinco mil de diferença.

É quase uma questão de economia, um competidor que fica grande demais acaba esmagando a concorrência e essa acaba se retirando do mercado. O problema é que gincana não se faz sozinho.


O que importa é vencer (o excesso de pragmatismo e a real politic)

O ano de 2012 contaminou as gincanas para sempre. Quando se fez o que se fez e nada aconteceu, abre-se as portas do inferno.

Durante um bom número de anos existia lealdade na gincana. Lealdade aos apoios que podiam ser chamados de amigos, ao menos.

Depois de 2012, as parcerias são formadas pela conveniência de vencer. Só isso basta, vencer. Então a todo ano se trocam os apoios em busca do melhor apoio de todos os tempos das últimas gincanas. Quando ele não for mais bom, se troca pelo próximo bom. Até se vencer sempre, todas as gincanas, sem concorrência.

A Águia ter trocado a Pepino pela Tatu é o símbolo disso. Uma das grandes lamentações que nós temos é não ter acabado a "parceria" com Tatu antes. Para eles, tenho certeza que está tudo certo, afinal de contas, eles estão vencendo.

Esse mundo de apoios cruzados, em que todo mundo quer se vender, acaba gerando um mercado paralelo de tarefas que beira o absurdo. É o utilitarismo das equipes e das pessoas. Ninguém vale nada, tu só vale quantos pontos tu coloca na planilha. Todo mundo é o melhor amigo de todo mundo, e todo mundo é filho da puta com todo mundo se precisar.

O problema é que gincana não se faz sozinho.


Sobre a saudosa terrinha. Gincana do milhão não acaba nunca, pois o show deve continuar. Depois disso, sei lá.

Até nunca +