Vivemos tempos em que, mais do que nunca, o tempo é escasso. Tudo deve ser experimentado, vivido, compartilhado e comentado em tempo real. Uma notícia de hoje pela manhã já é notícia velha. Se, depois de apenas uma hora, retornamos a um site e ele não apresenta nenhuma novidade pensamos que ele está desatualizado. Essa pressão todos nós vivemos. Todos somos cobrados por prazos em nosso trabalho, faculdade, escola, casa, etc... É preciso saber lidar com a pressão, antes que ela te devore.
As gincanas fazem parte do mesmo framework social em que estamos inseridos, logo, também estão sujeitas a pressão e angústia por novidades e aceleração em que vivemos em todas as novas atividades. Prova disso é aumento gradual do número de tarefas a cada gincana. Essa semana fiz um post sobre uma gincana de 2003. Foram incríveis 25 tarefas. Óbvio que é muito pouco, que as gincanas eram muito paradas. As gincanas dessa época chegaram a ser chamadas de românticas quando comparadas com as gincanas da Enigma (2004) com suas incríveis (!) sessenta e poucas tarefas. Em 2008, quando a Enigma organizou em São Jerônimo, foram 76 tarefas. E, ao final, nós comemoramos que havíamos sobrevivido, ou seja, chegado até o fim sem deixar tarefas para trás por não ter pernas para fazê-las. Hoje, uma gincana com 90 tarefas será considerada monótona.
Esse aumento no número de tarefas mudou, muito, a característica das gincanas e de como as pessoas participam de uma delas. Antes das 100 tarefas por gincana, era possível ter uma visão do todo durante a gincana, ou seja, você poderia acompanhar diversos tipos de tarefas e, inclusive, perceber boas sacadas da organizadora em tarefas de rua, charadas, objetos, artísticas ou esportivas. Dava até para dar uma paradinha e ver uma esportiva/artística para dar risada. Dava para conversar bastante e se atualizar sobre o que estava acontecendo em outras cidades. Hoje não, por isso que são importantes os eventos "extra" gincana, porquê somente assim você conseguirá um pouco de tempo para conversar com as pessoas sem a pressão do "está fazendo o que no QG que não está correndo feito louco atrás de uma tarefa?".
Hoje, você tem que estar focado na área de sua responsabilidade e atender a todas as tarefas o mais rápido possível. Tempo é ponto pessoal! A gincana ficou bem compartimentada e depois dela é que se fica sabendo o que o outro andou fazendo a noite inteira.
Outra característica é que, com mais de 100 tarefas, a tua equipe precisa ser grande. Não basta apenas ser organizada. Organizado tu vais fazer o que tem que ser feito aproveitando os recursos disponíveis e reduzindo a margem de erros de fechamento. O resto é matemática. Se eu tenho 10 pessoas por tipo de tarefa, estarei em desvantagem em relação a quem tem 50 pessoas por tipo de tarefa, quando elas são simultâneas. É do jogo, é da vida, e não adianta lamentar, mas constatar que as pequenas, nesse modelo, tem mínimas chances. Claro, eu sou de uma equipe pequena. Mas isso não invalida o que estou dizendo se pensarmos em gincanas de uma forma global. Qual a graça de uma gincana em que somente uma ou duas possam ganhar, por antecipação?
A questão que se impõe as organizadoras é como fazer com que essa pressão por mais tarefas não faça com que a diversão se transforme em um transtorno. Tipo, no final da gincana o que se tem é apenas cansaço e o desejo de que a gincana termine logo, pois não se pode ver mais nenhuma tarefa pela frente. Não escrevo, agora, sobre ganhar ou de perder, mas de participar de uma gincana que foi corrida, porém, boa de fazer, prazerosa de participar e que vai deixar boas lembranças, além da fadiga.
Resumindo, como montar uma gincana de forma que as chances de vitória ou derrota não sejam tão desproporcionais, observe, escrevi "não sejam tão desproporcionais", ou seja, obviamente as equipes maiores serão as favoritas, mas não devem ser as únicas com chances. O que eu sei é que com o regulamento elaborado pelas próprias ligas não dá certo. O que eu não sei é como se faz. Alguém tem alguma dica?