Performancing Metrics

Super Phoenix: Gincaneiro Oldschool

terça-feira, 26 de abril de 2011

Gincaneiro Oldschool

Eu sou do tempo em que as tarefas eram divulgadas de hora em hora, dentro de um envelope. A gente ficava na frente da porta do QG central esperando ela abrir e aparecer alguém da organizadora com os envelopes na mão. Um para cada equipe. Assim que autorizados, cada um pegava o seu e saiamos correndo feito desesperados, uns de carro outros a pé mesmo, levar a tarefa para o QG. Chegando lá a gente abria o envelope com todo o cuidado (podia ter alguma coisa escondida dentro dele), e só então se sabia o que era a tarefa. As vezes era UMA charada, noutras era UM objeto e assim por diante. Daí tinha que fazer xerox e distribuir para o resto da equipe saber do que se tratava. Sim, as tarefas eram todas em preto e branco. Computador era artigo de luxo dentro dos QGs e, na prática, servia para pouca coisa. Indispensável mesmo era uma boa biblioteca e uma enciclopédia Barsa.

Nessa época, a gincana tinha um rítmo inacreditável para os padrões atuais, uma tarefa por hora, as vezes duas, dez charadas, cinco objetos, um caça, um circuíto, algumas artísticas e esportivas (que em São Jerônimo a gente chamava de "tarefa de rua"). Eu lembro do Marco e do Guilherme dormindo durante a madrugada, pois não havia mais nada para eles fazerem já que as charadas estavam todas resolvidas e havia a certeza de que as novas seriam mortas assim que eles acordassem. Ter apoio externo, inclusive, era assunto delicado. Quem tinha dizia que não tinha e o pessoal de fora ficava escondido em QGs alternativos (o famoso QG 2 começou assim). Tudo para que as outras, que não tinham esse tipo de ajuda, não desmerececem a vitória alheia. Era ciúme, claro. Mas quem queria dar esse gostinho? Outra coisa sensacional era mandar por fax as tarefas para os apoios ajudarem na resolução de tarefas. Na primeira gincana em que o Marco nos ajudou, ainda de Taquara, parecia mágica, a gente mandava a tarefa e daqui a pouco o fax imprimia a resposta para nós.

o caça era "O caça" literalmente, pois só haveria um durante a gincana. Esse seria o único caça do ano em uma época em que viajar para participar de outras gincanas não era nem cogitado. Muitas vezes a organizadora escolhia um determinado local, espalhava por lá um número x de pequenos objetos identificados que poderiam ser tampinhas de garrafa, bolitas, moedas ou outro qualquer. Depois era só dar um "mapa" contendo dicas para cada uma das equipes e lá se ia todo mundo caçar o seu tesouro.

As tarefas esportivas eram todas realizadas na rua central da cidade, em frente a praça, na tarde de domingo. Não havia outras tarefas em paralelo, todo mundo se reunia para assistir, torcer e homenagear os rivais. Eu assisti a disputas sensacionais de homens correndo de tamanco, de salto alto e vestidos de mulher, tarefas que consistiam em morder uma maçã dentro de uma bacia cheia de água e depois encontrar uma moeda dentro de uma outra bacia essa cheia de farinha, tarefas em que um guri tinha que estourar bixiguinhas d'água com o pneu traseiro da bicicleta, tarefas em que era necessário abrir dois ou três cadeados tendo que escolher a chave correta dentre um molho com mais de 30 chaves.

Todas as equipes estavam sempre alertas para identificar os "espiões" infiltrados por outras equipes dentro dos QGs. O segredo era anotar as respostas erradas no quadro geral de tarefas para tentar enganar esse pessoal. Se tinha muito tempo para perceber "movimentações suspeitas" nas proximidades dos QGs, se duas pessoas de equipes diferentes eram vistas conversando não havia dúvidas: estavam "trocando" tarefas. Uma vez o Adão e eu quase mandamos "trazer o saco" para fazer um funcionário da antiga CRT confessar que estava na verdade grampeando o telefone do QG 2. O coitado estava trabalhando e nem ideia fazia de que naquela casa funcionava um QG.

Em São Jerônimo ainda tinhamos o show que era encenado na quadra de esportes do clube do comércio. Quando digo na quadra não estou exagerando, não havia palco. Cada equipe montava seu minúsculo cenário no centro da quadra de esportes e as equipes sentavam em volta para assistir. Antes das apresentações começarem cada equipe dava uma volta na quadra saudando as demais torcidas (podem acreditar porque eu tenho vídeos dessa época). O show tinha, ainda, outros atrativos. Ele começa a ser produzido com alguns meses de antecedência então se passava esse tempo todo "espionando" os adversários. A diversão era descobrir quem seria a Rainha, qual seria a música final, qual era o tema, como era a coreografia e mais divertido ainda era esconder isso tudo das outras equipes. Nessa época o pessoal ia escondido assistir os ensaios das outras equipes e caso fossem descobertos saiam correndo. Ninguém ficava lá justamente por que a graça não era brigar ou provocar o outro para a briga, a graça era ver sem ser visto, ser mais esperto e não mais forte. Havia um outro tipo de relacionamento entre as equipes, que pode ser chamado de respeito, as equipes se respeitavam muito.

Óbvio que com o tempo tudo isso mudou, tudo muda. A tecnlogia reduziu as distâncias, todas as gincanas passaram a ser estaduais, tudo ficou muito grande, mas ainda vale a pena lembrar de onde viemos.

2 comentários:

  1. Belíssimo post. Um tempo mágico este!
    Jean - Equipe Logos

    ResponderExcluir
  2. "A gente ficava na frente da porta do QG central esperando ela abrir e aparecer alguém da organizadora com os envelopes na mão. Um para cada equipe. Assim que autorizados, cada um pegava o seu e saiamos correndo feito desesperados,...levar a tarefa para o QG. Chegando lá a gente abria o envelope com todo o cuidado (podia ter alguma coisa escondida dentro dele), e só então se sabia o que era a tarefa."

    Parece redundante, mas na Gincana Liberato ainda acontece isso, (ou acontecia, gostaria muito que isso mudasse esse ano).Fato é que ainda vivemos o estilo "romantico" de gincanas pq a escola não permite que a organizadora divilgue suas tarefas na internet.Hoje, parece que o estilo antigo de gincanas era mais emocionante, mas dificulta o andamento das tarefas e a comunicação dentro da equipe.
    O desafio hoje seria jogar uma gincana no estilo antigo, não é o fim do mundo, mas como disse, é um desafio.

    Ótimo assunto, me faz pensar o quanto as gincanas ainda vão evoluir e quanto vai sobrar de "cara a cara" daqui a alguns anos.

    emileine brambilla

    ResponderExcluir