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Super Phoenix: Gincaneiro com o que mesmo?

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Gincaneiro com o que mesmo?


"A tua piscina está cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos" - Agenor de Miranda Araújo Neto

A estrutura das gincanas está comprometida. Qualquer um com o mínimo de conhecimento dos bastidores sabe disso. As tarefas de rua são apenas parte do problema. É preciso urgentemente uma reinvenção.

Eu estou muito decepcionado. Muito. Eu fico pensando, lendo o que tenho lido, se não teria alguém feliz com isso tudo. Aquela velha história de transformar "crises em oportunidades";

Por que essa é uma boa hora para isso acontecer. Basta mexer os pauzinhos para o lado certo e alguém pode se tornar o novo rei da gincana. É só um pequeno ajuste e a minha "equipe" passa a disputar o "grande" título de campeão da gincana municipal de sei-lá-onde. Título? Campeão do que mesmo? Eu, graças a Deus, tenho mais coisas na minha vida para me orgulhar.

Nessas horas também se vê o fantástico festival de "não tenho nada a ver com isso". Como se todos nós não tivéssemos um pouco a ver com tudo isso. Todos nós! Em Gravataí, o líder da Trapo falou "Não podemos estigmatizar a rua. Pode acontecer com alguém indo em casa a mil para buscar uma caneta". E, sim, ele está certo.

A coisa mais fácil do mundo, agora, é tirar o corpo fora. É uma barbada escrever "as equipes não tem nada com isso", "as organizadoras não tem nada com isso", "a responsabilidade é de cada um", " a culpa é de quem corre na gincana e não respeita as leis de trânsito". Mas de onde tiram isso???
Será que só tem anjinhos nas equipes?

Vou contar um caso hipotético:

"Em uma gincana, durante uma tarefa de dois tempos, a equipe X demora a matar o lugar e quando finalmente o encontra faltam minutos para o término da tarefa. Para piorar, o carro que chegou lá não tem o "amuleto" que precisava estar junto com um "berimbau" (que já gerou uma correria do cão para conseguir) e uma pessoa fantasiada de gorila para pontuar e retirar a tarefa antecipada. O pessoal do carro liga desesperado para o QG, faltam três minutos para encerrar o tempo, e pede para alguém levar o "amuleto". Um senhor dos seus 50 e poucos anos grita que sabe onde é. Pega o amuleto, entra no carro, e sai a toda velocidade até o local. Ele chega lá faltando 19 segundos e a tarefa é cumprida. A equipe de rua é recebida com honras militares no QG. Ninguém pergunta se no caminho ele respeitou a preferencial, a velocidade limite da via ou outros detalhes menos importantes".

Essa situação poderia ter ocorrido em qualquer QG de qualquer equipe do estado. Mas ontem, lendo a porcaria do face, parecia que isso só acontece nas gincanas do Paquistão. Parecia que o problema era localizado e "removendo a laranja podre do cesto" tudo voltaria a ser bom, justo e honesto. Como se houvesse essa laranja. Só quem NUNCA fez uma rua "as ganhas" pode pensar uma coisa dessas. Ninguém sai de casa e vai para uma gincana com a intenção de causar um acidente, porém, vários amigos se colocam na situação de causar um para cumprir uma tarefa. Como no caso fictício acima. Vários já se acidentaram e poderiam ter morrido - eu inclusive. 

A verdade é que ninguém opta por zerar tarefa. Se houver a menor possibilidade é pau na máquina. Inclusive eu gostaria de estar dentro de um QG quando alguém dissesse (na madrugada): "olha não vai dar para ir até o aeroporto e voltar em duas horas..." Será que o pessoal diria "Tem razão, deixa assim"? E se aparecesse um herói que fizesse a façanha? Na próxima tarefa, quem iria buscar o objeto?

Existe um "pacto silencioso" para blindar as gincanas de qualquer comentário negativo que possa ser feito. Então é muito feio alguém dizer que, um pouco antes do falecimento daquele pobre senhor, houve quem pensasse que era ruim cancelar a rua. Por que isso iria prejudicar a equipe A ou B. E fica uma hipocrisia do caralho com notinhas para lá e para cá.

Vejo muita gente feliz quando "engata" o adversário, quando consegue uma "vantagem", mas que fica puto e dá discurso quando leva a engatada ou descobre a vantagem do adversário. É fácil dar discurso até alguém descobrir que se estava dando moral de cuecas.

A equipe de gincana virou uma coisa amada irracionalmente por alguns integrantes. Esse amor irracional não permite enxergar qualidades em qualquer outra equipe e qualquer crítica ou crise é vista como uma ameaça a existência desse amor e é negada com fanatismo religioso.

Essa mudança de mentalidade - o fim dessa hipocrisia que está entranhada na sociedade é que teria que acabar. Mas essa é uma questão muito maior do que gincana. Não vamos esquecer que as pessoas que participam de gincanas não são melhores (e nem piores) do que as demais. Participar de uma gincana não te torna diferente, nem imune a sociedade em que se está inserido. E um dos males que enfrentamos é essa mania de condenar nos outros aquilo que a gente mesmo pratica.

O acidente foi terrível. Uma vida foi perdida e não há meios de remediar o que houve. A família deve estar arrasada e não há como consolá-los. Sentimos imensamente. Cabe as autoridades apurar o fato, as responsabilidades e então, se for o caso, dar a punição devida. Porém, eu não consigo conceber como deve ser difícil conviver com o fato de ter tirado a vida de alguém. E para que isso nunca mais venha a acontecer é preciso mudar ou parar de vez. Eu, hoje, não colocaria nenhum carro nosso na rua.






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